lunes, 28 de septiembre de 2015

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Diana Krall. Um suave rendilhado, 
uma plácida doçura

Marco Trigo    Sexta-feira, 25/09/2015 - 18:24




Wallflower – alguém introvertido e discreto, que facilmente se perde no pano de fundo. Talvez nada se adeque mais ao suave rendilhado que Diana Krall vem tecendo com a sua voz plácida, vão já mais de duas décadas.

Mas se a canadiana entra em palco e se senta no seu fiel piano de cauda com a mesma discrição de sempre, uma Wallflower certamente não é, pois num Coliseu quase cheio, todos os olhos se centravam nela. Vivia-se a estranha ironia de uma plateia invariável, em que todos vestiam a mesma roupa, os mesmos penteados e um mesmo estatuto social, esperar assim ansiosamente quem dificilmente se confunde com as massas e tão claramente distinta se tem mostrado em toda a carreira.

Diana Krall é um caso único de sucesso no jazz moderno, capaz de mobilizar multidões como poucos, e o seu segredo é difícil de desvendar. ‘We just couldn’t say goodbye’ começa, no entanto, a fazê-lo: a canadiana, que se confessa emotiva no momento, solta os dedos sobre as teclas e cada palavra entoada soa a paz. É um tema original das The Boswell Sisters, sobre um amor inescapável, mas a paz está lá.

A acústica do Coliseu favorece-a, e a interação com o público faz-se a bom ritmo, por entre um alinhamento verdadeiramente eclético que reinventou de Nat King Cole a Paul McCartney, mas se a nostalgia foi um dos pratos principais, Diana caminhava sem dúvida ‘On the sunny side of the street’, talvez porque ‘There ain’t no sweet man that’s worth the salt of my tears’, cantou ela com despeito e segurança de si.

O público reagia e devolvia a soberba prestação de uma Diana Krall acompanhada de músicos consumados cujas notas cadenciadas ecoavam na sala e nos embalavam.

Claro que a ‘Wallflower’ pertenceria a noite, e não faltou a interpretação desse já distante tema de Bob Dylan, além de ‘Let’s Face the music and dance’ de Nat King Cole, ou a magistral interpretação de ‘California Dreamin’, quase no final. Seria, no entanto, ‘Deed I do’, original de Ella Fitzgerald a ter a honra de encerrar o concerto. O encore traria ainda ‘Boulevard of broken dreams’, ‘Ophelia’ e ‘If I take you home tonight’, de Paul McCartney.

Comum a todos estes temas e interpretações, aquele mel constante no timbre de Diana Krall, uma plácida doçura que nos faz pensar que só quando sente a música ressoar em si, está a canadiana verdadeiramente viva.

PHOTOS: MARCO TRIGO - PHOTOGRAPHY

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